Há uma proposta da Comissão Europeia para o pós-pandemia que soma um fundo de recuperação de 500 mil milhões a fundo perdido e 250 mil milhões de empréstimos, que se espera venha a ser aprovado na próxima reunião do Eurogrupo.

A juntar a estes valores estão ainda os ditos fundos “normais” do quadro financeiro e os valores referente à rede de segurança na resposta ao Covid-19 já aprovados. Considerando que se prevê a alteração dos critérios de atribuição do fundo, pesando o rendimento per capita e o seu endividamento, Portugal pode vir a ser o oitavo país mais beneficiado dos 27, por esta ordem; Itália, Espanha, França, Polónia, Alemanha, Grécia, Roménia e Portugal. Os sectores mais beneficiados são o turismo, comércio, energias renováveis, energia e indústrias intensivas, negócios digitais, transportes, automóvel e construção. Mais do que uma oportunidade, isso deve apelar a responsabilidade dos nossos decisores para que se invista bem o dinheiro, sem fraudes, sem escolher projectos partidários, sem criar intermediários políticos que safam o seu quinhão. Tudo isto parece bom de mais para ser verdade. Bem diz o ditado “quando a esmola é grande, até o pobre se admira”. E, se pensarmos que em economia a “despesa de hoje, será imposto amanhã”, esperam-nos dias muito difíceis.

Quando ouço anunciar tantos milhões, vem-me à memoria a minha infância, tempos difíceis em que tudo era racionado. Não havia empregos e a agricultura era a única fonte de rendimento, sobretudo para as populações das aldeias. Na época das férias escolares, acompanhava os meus pais no trabalho do campo. Na altura da rega do milheiral, uma das minhas funções era seguir a levada calcorreando o seu fundo para que as toupeiras não desviassem a água e ela pudesse chegar à terra em quantidade suficiente para regar.

Que tem haver este facto com os milhões que podem e devem chegar a Portugal para revitalizar a nossa economia? É que não consigo deixar de pensar que a maior parte desse dinheiro se venha a perder nos meandros da burocracia, nas estruturas para gerir os mesmos fundos, em comissões de gestão, na aplicação duvidosa de projectos que tragam valor acrescentado à nossa economia ou nas “toupeiras” que se perfilam estrategicamente nas “levadas”, sacando a sua maquia.

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